segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dente, menstruação e até gordurinhas podem ser doados à ciência

Você conhece os bancos de dentes?

Lá, os dentes do seu filho que valeram uma moedinha da fada do dente ajudam pesquisadores em novos estudos. Confira como fazer para doar

Ana Paula Pontes

Shutterstock
O que você faz com os dentinhos que seu filho coloca embaixo do travesseiro para a fada dos dentes levar? Entre correntinhas ou guardar numa caixinha, você pode doá-los para os bancos de dente.

Vinculados a Universidades (ainda existem poucos no Brasil), eles têm como objetivo armazenar dentes, tanto os de leite quanto os permanentes, para que profissionais e estudantes de odontologia possam realizar pesquisas, entre elas investigar o melhor produto para limpar cavidades de dentes ou fazer uma restauração, por exemplo.

E não são só aqueles dentes branquinhos e impecáveis do seu filho que servem como doação. “Os bancos aceitam dentes quebrados, com cárie, escurecidos. Até aqueles que estão guardados há anos podem ser doados. Há estudos para todos os tipos de dentes, da maneira como estiverem”, afirma José Carlos Pettorossi Imparato, dentista e professor de odontologia das Universidades de São Paulo (USP) e São Leopoldo Mandic, em Campinas.

Você pode doar um ou mais dentes. “O ideal é que, assim que forem tirados, não demorem a serem doados. Basta lavar o dente em água corrente, secar e colocar num saquinho plástico ou gaze seca. Há alguns bancos que pedem para deixar o dente em água, mas, se ela não for trocada e houver demora na entrega, há risco do surgimento de bactérias”, diz.

No Banco, um cadastro do doador é realizado. Depois, os dentes são limpos, selecionados e separados por grupos (incisivos, caninos, molares, pré-molares, com cárie) para então serem colocados sob refrigeração em recipientes com água.

Confira abaixo alguns locais para onde a fada do dente pode levar os dentinhos do seu filho:

Universidade de São Paulo (SP) - Faculdade de Odontologia
Av. Professor Lineu Prestes, 2.227 - Cidade Universitária - São Paulo - SP - CEP 05508-000
É preciso enviar uma carta de doação. Mais informações: (11) 3091-7835 ou acesse http://www.fo.usp.br/


Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) Av. Carlos Cavalcanti, 4.728 - Bloco M - Sala 11 - Campus de Uvaranas - Ponta Grossa - PR - CEP 84030-900
É preciso levar um termo de doação que está no site http://www.uepg.br/uepg_departamentos/deodon/dentes/index.htm. Mais informações: (42) 3220-3104 ou por e-mail: bancodedentes@uepg.br


Universidade Federal de Santa Maria (RS)
R. Floriano Peixoto, 1.184 - sl. 114 - Santa Maria - RS - CEP 97015-372 - A/C Banco de Dentes
Mais informações: (55) 3220-9268 ou acesse http://www.ufsm.br/


Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic (SP) Rua Dr. José Rocha Junqueira, 13 - Ponte Preta - Campinas - SP - CEP 13045-755 - A/C Banco de Dentes Humanos
É preciso enviar uma carta de doação, com nome, RG e quantidade de dentes enviados no envelope. Mais informações pelo site http://www.slmandic.com.br/


Universidade Camilo Castelo Branco (SP)
Rua Carolina Fonseca, 548 - Itaquera - São Paulo - SP - CEP 08230-030 - A/C Banco de Dentes
É preciso enviar uma carta de doação e os dentes em um pote com soro fisiológico. Mais informações: (11) 2070-0196 ou acesse http://www.unicastelo.br/

Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI120491-15151,00.html

Dente, menstruação e até gordurinhas podem ser doados à ciência

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Dentes de leite, restos de placenta, sangue menstrual e até gordura da barriga podem ser entregues à ciência para ajudar na busca de tratamentos para problemas tão variados quanto autismo e doenças degenerativas.
Os "resíduos" podem ser encaminhados para centros de pesquisa, onde são usados principalmente em estudos com células-tronco.
Essa modalidade de doação, no entanto, é quase desconhecida no Brasil. Os cientistas precisam se desdobrar para que as pesquisas não parem por falta de material.
O esforço inclui não ter vergonha de pedir para participar do parto de desconhecidos. "Uma vez, fui trocar um presente e reparei que a vendedora estava grávida. Pensei logo na minha pesquisa e falei sobre a doação", conta Patrícia Beltrão Braga, pesquisadora da USP.
"A placenta e o cordão umbilical são normalmente descartados como lixo hospitalar depois do parto", diz a cientista. "Pedimos para usar isso que já vai ser jogado fora mesmo."
Além do trabalho com placentas, o Laboratório de Células-Tronco da Faculdade de Veterinária da USP, que ela comanda, também faz pesquisas com dentes de leite. As células-tronco da polpa do dente podem ser transformadas em neurônios: um modelo perfeito para estudar doenças como o autismo.
GORDURINHAS
Outra interessada em material descartado é a geneticista Natássia Vieira, pesquisadora de Harvard e da USP que vasculha o tecido adiposo em busca da cura para doenças degenerativas, como a distrofia muscular.
Em meio à gordurinha do abdome e do culote, escondem-se células-tronco com poderosa ação regeneradora.
"Quando explicamos a pesquisa, a maioria das pessoas doa. Infelizmente, ainda tem gente que parece ter apego à célula e que acha que vamos usar o material recolhido para fazer um clone", brinca a pesquisadora.
No Centro de Estudos do Genoma Humano, onde é feito esse trabalho, há muito mais células que interessam aos cientistas.
Em busca de células-tronco mesenquimais, a dupla Marcos Valadares e Mayra Vitor Pelatti tem o difícil trabalho de convencer mulheres a doar seu sangue menstrual.
Os pesquisadores garantem que o processo é simples. "É só usar um coletor menstrual, que é um copinho, por duas ou três horas e depois colocar o sangue em um pote com antibiótico que nós fornecemos. Não é tão diferente de usar um absorvente interno", diz Pelatti.
COMO DOAR
Em geral, os laboratórios têm os contatos e as informações básicas em seus sites (veja quadro ao lado). Muitas vezes, é enviado ao doador um kit com material. É preciso assinar um documento autorizando a doação.
Com cordão umbilical e placenta, os pesquisadores precisam ser informados da previsão do parto para ficar de plantão, uma vez que a coleta precisa ser feita até uma hora após o nascimento.
Os cientistas costumam ter parcerias com hospitais. Mas eles reafirmam a importância do doador individual.
"A pesquisa só acontece porque as pessoas doam, isso é um ato de amor e solidariedade", define Braga.

Arte/Folhapress